O físico na sociedade

Postado por Douglas Vilela sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011 , , ,

Hoje, via twitter, recebi uma notícia que para muitos possa parecer estarrecedora... Mas não quero ser arrogante a dizer que ja pressentia isso. Aliás, há algum tempo...
Mas continuando, aqui segue a notícia retirada da Folha de São Paulo, após ler a notícia, faço uma análise do que penso sobre tal.
Decadência ronda ciência dos EUA no seu maior evento anual

Para especialista, jovens estão "fugindo" da carreira científica

RICARDO MIOTO
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O maior encontro científico dos EUA e (ao menos por enquanto) do mundo começou ontem com uma mensagem desagradável: "Já não somos mais os mesmos".
A palavra "declínio" está em todo lugar: nas entrevistas de Alice Huang, presidente da AAAS (Associação Americana para o Progresso da Ciência, responsável pelo congresso), no relatório de novembro da National Science Foundation e nos corredores do centro de convenções.
Huang fala com expressão preocupada: "Temos de enfrentar os problemas recentes. Não podemos deixar a ciência e a educação irem embora deste país".
Desde 1992, a fatia americana da produção científica mundial diminui ano após ano. Estima-se que, ainda nesta década, será ultrapassada pela ciência chinesa, que avança rapidamente.
A ciência americana é atingida por problemas que o país todo enfrenta, como a ascensão de novas forças pelo mundo, como a China, desafiando a sua hegemonia, e a crise econômica.
Mas existe um problema mais perverso do que esses, que coloca a ciência americana em um beco sem saída: os jovens mais brilhantes do país nunca desprezaram tanto a carreira acadêmica.
Calcula-se que mais de 60% dos alunos de doutorado do país não são americanos. Nos melhores programas de pós-graduação, dependendo da área, esse valor pode se aproximar de 90%, lugares em que é preciso procurar muito para achar um nativo entre os montes de indianos e chineses.
Para Jonathan Katz, físico da Universidade de Washington, os jovens americanos estão certos em desprezar as carreiras científicas.
"Eu conheço mais pessoas cuja vida foi arruinada por um doutorado em física do que pelas drogas", brinca.
Ele é o autor de um polêmico texto que há anos circula entre os físicos na internet.
Katz parece ter captado o espírito do jovem promissor que foge da ciência: "Você está pensando em ser um cientista? Esqueça! Vá estudar medicina, direito, informática. Ser cientista é divertido, mas depois precisará lidar com o mundo real."
As bolsas de pós-graduação pagam mal: um doutorando em física da Universidade da Califórnia em Los Angeles, por exemplo, ganha US$ 1.700 por mês.
Mas o problema, diz Katz, é que o tempo passa e os jovens não conseguem se livrar da vida de bolsista
"Formamos duas vezes mais doutores do que conseguimos contratar. Com a concorrência, os jovens cientistas passam até dez anos tendo de viver com bolsas".
"Um bom advogado entra no mercado de trabalho com 25 anos", diz Katz.
A solução, para ele, seria a absorção dos pesquisadores pelas universidades em caráter permanente.
O problema é que, se o país passar a formar menos doutores, que são os responsáveis por boa parte da pesquisa de qualquer nação, sua produção científica vai despencar mais ainda.

Mas por que chegamos a este ponto!??

Por que os físicos, que há pouco tempo, na corrida espacial, eram considerados os mais importantes funcionários da empresa ou do centro de pesquisa estão se tornando obsoletos, assim como uma garrafa pet.
Ja parou para pensar nas brigas passadas, como fomos muitas vezes na história da civilização humana... Na inquisição fomos queimados... e quando conseguimos levar a luz à sociedade, esses então ajoelharam sobre nós de tal forma que subimos ao topo da pirâmide ao lado do Papa. Tinhamos ao lado da religião, a importância da ciência, e é claro o seu valor.
Continuando na história... agora nos livros didáticos, sabemos que muitos deles falam sobre a segunda guerra mundial e suas atrocidades, seus crimes contra a humanidade, numeros de mortos, cidades devastadas, ditadores em ascensão e declínio. Mas e a ciência? Aonde está nesse momento? Saiba você caro leitor, que houve uma briga, americano-soviética, pelos principais laboratórios de pesquisas alemães. Eles queriam evoluir, com o que ja existia de melhor, não estavam preocupados com o que houve de mais assombroso... assim é a ciência. Objetiva e sempre procurando evoluir a nossa compreensão do que há no mundo...
Mas o que acontece a partir do momento que a chave principal da ciência se torna obsoleta?
Pode achar presunsão de minha parte chamar os físicos de chave principal. Mas o desempenho ímpar desses na história da humanidade me faz lhes dar tal relevância.
Quando somos despresados, ficamos a margem da sociedade, simplesmente não trabalhamos, procuramos caminhos alternativos para sobrevivência, e o capitalismo comporta, afinal não somos muitos.  
No fim, todo o nosso conhecimento, retido e limitado aos nossos cérebros, faz com que esperemos que a história corra os anos e assim percebam o pecado que cometem ao nos deixar de lado, e quando necessitarem do nosso conhecimento iram nos sugar, como parasitas... Hão de ficar pasmos com a heresia que cometeram com a ciência e com sigo mesmo deixando de evoluir, para procastinar.
Matam o leitero, que passa desapercebido no meio da multidão... mas essa multidão, sabe intrinsecamente, que somos úteis e necessários....
Nesses momentos, recorro à Carlos Drummond... 


Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro…
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue… não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.

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A Nossa Insignificancia no Universo
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